Filhos educados na escola, alunos ensinados em casa

#OPINIÃO

Por Luísa Sampaio e Naara Martins

Você sabe a diferença entre ensino e educação? Ou acha que são a mesma coisa? No Brasil, os conceitos se relacionam a ponto de terem suas funções e personagens confundidos. Entretanto, é essencial distinguir e delimitar cada um deles separadamente, assim como a importância de ambos para a formação dos cidadãos. Apesar de estarem relacionados um com o outros, eles não são dependentes entre si.

Ensino é a transmissão de conhecimento e sua aprendizagem, envolve matérias e seus conteúdos específicos e o principal ambiente responsável por cumprir essa função é a escola. Já a educação é, primordialmente, transmitida pela família e se complementa com o passar do tempo nos demais ambientes de convívio social. Sua função envolve a formação de valores e crenças, o que influencia diretamente na manutenção da sociedade. E não é uma questão de conhecimento, mas sim de socialização, pois promove a integração de indivíduos capazes de se adaptarem a um grupo mais amplo. 

A inversão de valores vem ocorrendo em diversas camadas da sociedade brasileira, e uma das mais sérias envolve este tema. A confusão entre educação e ensino atingiu pais, professores e alunos que, por sua vez, também são filhos, tornando essa uma daquelas situações em que não encontramos um lado certo e outro errado, todos são prejudicados. Há alguns anos, os professores costumavam notificar a família do aluno sobre o mau comportamento em ambiente escolar. Os alunos eram disciplinados – seja com castigos ou perda de privilégios – em casa. Atualmente, ocorre o contrário. Pais reclamam do comportamento de seus filhos a professores e cobram que estes o eduquem em sala de aula. Ou seja, passam sua responsabilidade educativa a professores, exigindo deles aquilo que não promovem em casa.

Apesar da educação promover o convívio entre diferentes grupos sociais, estes precisam respeitar aquilo que foi construído em casa pela família. Sendo assim, a escola se configura como um ambiente de estímulo de novas experiências sociais, onde a criança manterá aquilo que foi aprendido anteriormente. O mesmo processo irá ocorrer futuramente ao formar uma nova família e em outros ambientes de convívio, como ao ingressar em uma universidade e no trabalho. Logo, a escola não deve, de maneira alguma, influenciar em questões que não fazem parte de suas responsabilidades.

Logo, o maior problema do sistema educacional brasileiro tem origem em seu próprio nome, pois a escola, que deveria apenas complementar a educação, assumiu um papel que não é seu, o de educar. Ela perdeu o equilíbrio entre os dois conceitos e passou a dedicar-se mais a atividades de socialização. O maior problema do sistema educacional brasileiro é não se chamar sistema de ensino.

O primeiro passo para reverter essa situação demanda, primeiramente, a diferenciação entre os dois conceitos e a delegação das funções para seus verdadeiros responsáveis. A partir do momento em que ambos cumprirem seu verdadeiro papel, haverá também a conscientização de que ensino e educação não devem se alterar, mas apenas se complementar. Isto, por sua vez, reduzirá o conflito entre escola e famílias, contribuindo para uma formação mais completa de cidadãos.   

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